Um guia para estratégias metacognitivas na sala de aula – Parte 1
O SIGNIFICADO DE METACOGNIÇÃO
A metacognição é o conhecimento que uma pessoa tem sobre seus próprios processos mentais/cognitivos. Em tese, quando um indivíduo tem consciência disso, torna-se capaz de refletir ou entender o funcionamento e a situação em que se encontra a sua própria mente, em relação ao pensamento, à compreensão e ao aprendizado.
Certamente um dos momentos de maior satisfação de uma pessoa é aquele em que ela percebe que aprendeu algo. É da natureza do ser humano ter este tipo de satisfação, não importa o nível educacional ou o que foi aprendido, desde que o indivíduo queira (ou deseje) aprender e o que aprende seja, de alguma forma, útil.
Então, por que, na escola, nem sempre a aprendizagem significa ter prazer e satisfação?
E embora você, professor, possa não conhecer o conceito de metacognição, com certeza exercita todo o tempo essa consciência do próprio processo de aprendizagem e de buscas de estratégias para aprender melhor.
Veja neste post como sistematizar este processo e ensinar seus alunos como fazê-lo também.

ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS: O QUE SÃO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA
A metacognição envolve a consciência que temos dos processos que ocorrem quando estamos aprendendo. Não entender isso direito é um problema. Tanto que quando alguém toma consciência do processo de aprendizagem, ganha controle sobre como aprende.
Quem tem consciência de como se aprende diferencia mais facilmente possíveis abordagens para resolver um problema, desde a seleção das estratégias mais adequadas à própria experiência até a avaliação de suas habilidades e conhecimentos.
Podemos definir, então, que a metacognição envolve conhecimento da cognição e a regulação metacognitiva, dois conceitos que aqui vamos aprofundar, tendo os estudantes como referência.
UM TERMO NOVO, MAS UM CONCEITO ANTIGO
A metacognição é um termo relativamente novo, mas seu conceito, do conhecimento que uma pessoa tem sobre seus próprios processos mentais é muito antigo.

Platão e Sócrates, na Grécia antiga, já refletiam sobre as atividades de cognição. As “questões socráticas”, embora tenham como objetivo central a ética e a filosofia moral, buscavam levar o aprendiz a organizar informações, refletir sobre elas e criar novas ideias a respeito de um tema.

Jean Piaget e Lev Vygotsky, por sua vez, em seus estudos enfatizavam o quão fundamental é compreender o processo de ensino e aprendizagem.

John Dewey, pioneiro na metodologia de projetos, e Edward Thorndike, em sua psicologia comportamentalista também se referiam ao que aqui chamamos de processo metacognitivo, apesar de o termo ainda não existir na época.
Todos estes estudiosos, de alguma forma, propunham a necessidade de uma “tomada de consciência” sobre o próprio conhecimento e a possibilidade de uma ação de regulação em busca da aprendizagem.

John Flavell: criador do termo “metacognição”.
Mas foi John Flavell, psicólogo especializado em desenvolvimento cognitivo infantil, que nos anos 1970 e 1980 sistematizou o estudo sobre o conhecimento sobre os próprios processos cognitivos do ser humano e criou o termo metacognição, que poderia ser traduzido como:
- Pensar sobre o pensamento
- A cognição da própria cognição
- Pensamento sobre o próprio pensamento
O CONHECIMENTO DE COGNIÇÃO
O conhecimento de cognição é o conhecimento que uma pessoa tem sobre a forma como aprende e está dividido em três modalidades de conhecimentos: conhecimento declarativo, conhecimento processual e conhecimento estratégico.
- Conhecimento declarativo – é o conhecimento do conteúdo que se expressa com frases ou expressões verbais e que é a forma mais usada por professores e alunos na rotina escolar. Por exemplo: os múltiplos de 9 são compostos por algarismos que somando sempre dão 9, o que pode torná-los mais fáceis de memorizar. Logo, considerando os números de 9, 18, 27 e 36, percebemos que os algarismos de 18 ao serem somados (1 + 8) resultam em = 9, o mesmo acontecendo com 27 (2 + 7 = 9), 36 (3 + 6 = 9) e assim por diante, até o número 90 (9 + 0 = 9).
- Conhecimento processual ou procedimental: é o conhecimento implícito de como realizar ações e utilizar habilidades, em que os alunos manifestam o que aprenderam por meio de ações precisas e coordenadas, como conversar, caminhar, andar de bicicleta ou jogar no computador.
Aqui precisamos fazer uma consideração: estas duas modalidades de conhecimento, declarativa e processual, estão normalmente relacionadas a realidade externa ao indivíduo. Entretanto, cada pessoa também conhece coisas do seu próprio universo interior, isto é, do funcionamento da própria mente, do próprio sistema cognitivo, ou seja, essencialmente a metacognição. Por isso, além destes dois conhecimentos, as pessoas também têm uma terceira modalidade de conhecimento que utilizam constantemente: o estratégico.
- Conhecimento Estratégico: corresponde a avaliação e ao uso de estratégias disponíveis à medida que a pessoa aprende novas informações, como por exemplo: um aluno estuda mais nas anotações no caderno do que no livro texto, porque acredita que vai tirar notas melhores dessa maneira.
Os estudos sobre metacognição têm mostrado que pessoas deveriam conhecer melhor suas capacidades e suas limitações para obter melhores resultados de aprendizagem. Na escola, a maioria dos alunos não têm consciência de como é o seu próprio processo de aprendizagem e por isso têm maior dificuldade de alcançar bons resultados. Eles precisam de “consciência metacognitiva” para que possam controlar a própria aprendizagem, percebendo como, quando e por que devem utilizar estratégias cognitivas, vindo daí o conceito de regulação metacognitiva.
REGULAÇÃO METACOGNITIVA
A regulação metacognitiva refere-se à capacidade do aluno de controlar sua aprendizagem por meio de algumas ações:
- Planejamento: selecionar estratégias apropriadas para facilitar a aprendizagem. O aluno precisa conhecer claramente os objetivos de aprendizagem, ter noção da dificuldade da tarefa proposta e fazer uso de recursos já usados em experiências anteriores.
Autoperguntas que norteiam o planejamento: 1 – O que me pedem para fazer? 2 – Quais estratégias vou usar para fazer? 3 – Há alguma estratégia que eu já tenha usado antes que poderá ser útil?
- Monitoramento: o aluno deve monitorar seu nível de compreensão e eficácia das estratégias que selecionou para cumprir a tarefa proposta.
Autoperguntas que norteiam o monitoramento: 1 – O que estou fazendo melhorou a minha compreensão? 2 – A minha estratégia está funcionando? 3 – Devo tentar algo diferente?
- Avaliação: o aluno verifica o êxito que teve com suas estratégias para cumprir a tarefa.
Autoperguntas que norteiam a avaliação: 1 – Como foi meu desempenho? 2 – O que funcionou e o que não funcionou bem? 3 – O que eu deveria mudar para fazer melhor? 4 – Esta estratégia poderia ser aplicada a outras problemas?
Este processo pode ser esquematizado da seguinte maneira:

Não importa a idade, origem ou nível de desempenho dos estudantes, ensinar estratégias metacognitivas a eles proporciona benefícios importantes, como, por exemplo:
- Aumento do controle sobre o próprio aprendizado;
- Melhora da capacidade de autorregulação;
- Apoio aos alunos que têm pior desempenho;
- Otimização do aprendizado para os de melhor desempenho;
- Facilidade para a pratica de novos conhecimentos e habilidades;
- Aumento da independência e confiança dos alunos;
- Aumento da resiliência e perseverança;
- Incentivo a colaboração na aprendizagem;
- Incremento da motivação para aprender.
Usando estratégias metacognitivas os alunos desenvolverão um repertório cada vez mais sofisticado de estratégias de aprendizagem durante a escolaridade. E isto se refletirá em suas experiências educativas, na definição de preferências de aprendizagem, no prazer de aprender diferentes disciplinas e na percepção da ressonância do conteúdo.
- Este post foi inspirado no artigo “A guide to metacognitive strategies in the classroom”, publicado no site da ClickView, Austrália, de autoria de Chris Woods.
- Na parte 2 deste post, “ENSINANDO ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS AOS SEUS ALUNOS”, vamos aprofundar a abordagem o tema, apresentando atividades que podem ser feitas em sala de aula com o objetivo de fazer com que os alunos aprendam estratégias metacognitivas. Acesse aqui. Leia também a PARTE 3 – COMO MOTIVAR OS ALUNOS A UTILIZAREM ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS clicando aqui.
E para você? Os conceitos relacionados à metacognição tem importância? Ou não? É possível para um estudante sistematizar a própria aprendizagem? Participe deste debate com sua opinião.
2 comentários sobre “O QUE É METACOGNIÇÃO E COMO ELA INFLUENCIA A APRENDIZAGEM”