Neste artigo são abordados:
- O valor de documentários e outros gêneros de vídeos educacionais para o ensino presencial, remoto e híbrido;
- Fundamentos de sua utilização;
- Estratégias de uso para o ensino híbrido.
Sob o impacto da pandemia na educação, no ano de 2020 vimos que na Europa e Estados Unidos, houve um esforço para minimizar o problema do fechamento das escolas, com a adoção de atividades online, o que também ocorreu em parte das escolas brasileiras. Para 2021, o foco, nas nações mais desenvolvidas, está no ensino híbrido, conhecido na América do Norte como blended learning, ou “aprendizado misturado”, na tradução literal. Nele, parte das atividades é feita de forma presencial e parte online, uma alternativa que também se discute no Brasil.
Nos Estados Unidos e no Canadá, o ensino híbrido é um programa de educação formal, muito utilizado, no qual o aluno acessa conteúdos e instruções pela internet e participa de atividades presenciais na sala de aula, podendo interagir com seus colegas e com o professor. Destaco o termo “formal” considerando que o aluno não vai usar qualquer conteúdo disponível na internet, mas aquele indicado pelo professor de cada disciplina. Na parte presencial são valorizadas as interações e há forte dependência e integração com as atividades desenvolvidas online.
A SALA DE AULA INVERTIDA
O ensino híbrido tem tudo a ver com o conceito de “sala de aula invertida”, metodologia abordada em um curso em vídeo sobre metodologias de aprendizagem ativa, que produzi há alguns anos. Nela, o conteúdo e as instruções são acessados e estudados pela internet como uma preparação para as atividades presenciais, viabilizando aumento da quantidade de conteúdos abordados e da qualidade dessa abordagem. A sala de aula torna-se o local em que os conteúdos já estudados são trabalhados com o professor e os colegas, por meio de atividades como resolução de problemas, discussão, aulas de laboratório e para que dúvidas sejam sanadas.
Esta modalidade de aula, criada pelos professores Jonathan Bergmann e Aaron Sams e apresentada no livro de autoria deles “Sala de Aula Invertida – Uma Metodologia Ativa de Aprendizagem” foi colocada como uma metodologia centrada nos alunos e na aprendizagem, um contraponto às aulas expositivas tradicionais. No quadro abaixo, é feita uma comparação proposta pelos autores entre a sala de aula invertida e a tradicional.
QUADRO 1 – Comparação do uso do tempo nas salas de aula tradicional e invertida.

Na produção do curso, sob a coordenação do professor Per Christian Braathen, um norueguês radicado no Brasil que é PhD em ensino de ciências, ficou claro para mim que um dos fatores críticos da sala de aula invertida era (e continua sendo) a produção de material online e sua integração com as atividades presenciais. A maioria dos professores grava em vídeo suas aulas presenciais, usando o quadro de escrever ou apresentações multimídia. O problema é que disponibilizar para os alunos um grande número de aulas em vídeo de longa duração acaba tornando a estratégia menos efetiva. Se na sua forma presencial, a aula expositiva tradicional tem capacidade limitada de manter a atenção dos alunos, transformada em vídeos longos e numerosos torna-se ainda menos eficaz. Isso tem levado professores a substituir parte das suas aulas expositivas em vídeo por documentários e outros tipos de vídeos educacionais.
Se você quer saber mais sobre o uso de vídeos na Educação Básica, conheça “Vídeos Educativos Online na Rotina da Escola” um Guia para Diretores, Coordenadores Pedagógicos, Gestores e Educadores em geral, que você pode baixar aqui.

Veja como implementar o uso de documentários e vídeos de ficção, jornalismo e outros gêneros educativos online como recurso didático em sua Escola. Tecnologia educacional moderna, eficaz e de fácil utilização e muito usada nos EUA e Europa.
Um eBook publicado pela PaideiaPlay. 46 páginas.
O VALOR DE DOCUMENTÁRIOS E OUTROS GÊNEROS DE VÍDEOS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO HÍBRIDO, PRESENCIAL E HÍBRIDO

Nas discussões com o professor Braathen, confirmamos que as telas do celular, tablet ou computador podem ser grandes aliados da sala de aula invertida e que seu uso pode ser potencializado por meio do envolvimento, que é a chave para um ensino mais eficaz. Como documentarista, sugeri que uma forma de promover envolvimento – nas plataformas da internet indicado pelo termo “engajamento” – é contar bem uma boa história e que, por isso, documentários de qualidade têm grande utilidade para o processo educacional, para, ao mesmo tempo, envolver e instruir por meio da narrativa.
Nos tempos atuais, projetar para o ensino híbrido as conclusões que tivemos para a sala de aula invertida é inevitável. Um ou mais documentários, integrados estrategicamente à abordagem planejada pelo professor, servem como base para discussão, interpretação e/ou estudo posterior do conteúdo proposto. Podem ser escolhidos tanto filmes que abordam diretamente o conteúdo estudado quanto aqueles que mostram temas relacionados. Associados à abordagem do professor, documentários e outros tipos de vídeos educacionais podem dar vida a um conteúdo, motivando os alunos para o tema, um verdadeiro combustível para a aprendizagem ativa.
FUNDAMENTOS DA UTILIZAÇÃO
A inserção de documentários na abordagem de ensino promove ao menos quatro melhorias no processo:
QUADRO 2 – Fundamentos estratégicos do uso de documentários na abordagem do professor.

No contexto educacional em que vivemos, onde há limitação de atividade presencial devido à pandemia, estas quatro melhorias são de grande valor. Particularmente, combinar facilidade de convencimento com um alto potencial de engajamento é algo valioso para a aprendizagem em atividades remotas.
ESTRATÉGIAS DE USO PARA O ENSINO HÍBRIDO
Apesar de todo o potencial educacional que oferece, um filme não pode ser usado isoladamente como método de ensino. Assistir ao documentário tem de ser parte do processo, em que discussões em sala ou online, associadas a orientações do professor, leituras, exercícios e outras atividades precisam ser incluídos na programação de atividades. Além disso, o ideal é utilizar mais de um filme, em diferentes momentos da abordagem. Dessa forma, as atividades dentro e fora da sala de aula vão integrar os vídeos, para enfatizar e/ou ilustrar temas do conteúdo estudado e aumentar a compreensão pelo aluno. Podem ser usados como recursos independentes, mas o ideal é que estejam integrados às temáticas do currículo, à sequência de abordagem do professor, aos conteúdos dos livros didáticos e mesmo indicados como lição de casa. Com isso, o documentário torna-se valioso como estímulo à reflexão e ilustração do assunto abordado.

Vale aqui fazer algumas reflexões sobre o uso de documentários e vídeos educacionais como ferramenta de apoio à aprendizagem:
- PRIMEIRO, A FREQUÊNCIA DE USO
- Provavelmente a maior parte dos alunos de sua escola não tem como hábito assistir documentários, não tendo sido sensibilizados para este gênero cinematográfico. Outros gêneros audiovisuais, bem menos úteis ao aprendizado, estão, normalmente, muito mais presentes à rotina dos alunos. Por isso, é muito indicado que as abordagens de conteúdos utilizando um ou mais vídeos sejam repetidas várias vezes ao longo do ano letivo. Não há necessidade de colocar as turmas para assistir vídeos educacionais todos os dias. Mas, um uso muito espaçado é insuficiente para que os alunos incorporem o documentário aos seus hábitos televisivos, tanto quanto já incorporaram outros gêneros de entretenimento. O ideal seria que, juntando todas as disciplinas, os estudantes fossem motivados a assistir pelo menos uma ou duas obras semanalmente.
- SEGUNDO, A SELEÇÃO DO FILME
- Tome o mesmo cuidado que teria ao escolher um livro para consulta ou leitura. Os documentários podem promover um ponto de vista específico sobre um fato ou fenômeno, às vezes até mesmo em detrimento da precisão. Isso poderia levantar dúvidas sobre a adequação de um determinado filme, porém, se você assiste previamente, vai perceber se a obra deliberadamente toma partido ou mesmo promove determinado ponto de vista. Se isso ocorre, o documentário ainda pode ter valor, especialmente quando depois de assistir o publico tem a oportunidade de examinar mais atentamente o contexto por trás da abordagem. Nessa hora, os alunos podem ser incentivados a comparar a posição do filme com visões opostas de outras fontes, inclusive as suas próprias.
Quer conhecer mais detalhes sobre o uso de vídeos online no ensino híbrido? Leia o post 10 Estratégias para seleção e uso de vídeos educacionais online na pandemia e também O poder da narrativa, na ficção e nos documentários, de envolver os alunos e promover a aprendizagem.
UMA PLATAFORMA PARA FACILITAR O USO DE DOCUMENTÁRIOS NAS ATIVIDADES DO ENSINO HÍBRIDO
O uso dos documentários como ferramenta de apoio à aprendizagem é um tema amplo e que merecer ser aprofundado em sua análise. É o que, juntos, faremos muitas vezes aqui no blog Vídeo e Aprendizagem. As melhores obras audiovisuais, sobretudo documentários e vídeos de formação e educação, nos levam a novos lugares, nos fazem ver novas coisas e com novos olhos, nos permitem pensar sobre as coisas do mundo de novas maneiras, de um jeito que sequer percebemos.
A confiança de que boas obras audiovisuais podem contribuir muito com a educação, me fez trabalhar de forma intensa nos últimos anos na análise, seleção e mapeamento pelo currículo (BNCC) de milhares de vídeos educacionais disponíveis na internet. Com o apoio de vários colaboradores, esta análise foi sistematizada, resultando na elaboração de uma plataforma, a PaideiaPlay, que permite ao professor identificar como poucos cliques, os vídeos necessita. Se você é diretor de escolas, coordenador pedagógico ou professor e quer saber mais sobre a PaideiaPlay, para avaliar seu uso no ensino híbrido, clique aqui.
Atualizado em 26 de julho de 2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Docummentary as a teaching tool – Adam Judge (https://www.debeaumont.org/news/2017/the-documentary-as-a-teaching-tool/)
- BERGMANN, J.; SAMS, A. Sala de aula invertida – uma metodologia ativa de aprendizagem. 1. ed. Rio de Janeiro. 2016.
- ENTWISTLE, N., “Motivational factors in Students Aproaches to learning,”in R. R. Schmeck. Ed., Learning Strategies and Learning Styles, Plenum Press, New York. Chap. 2 (1988).
- BRAATHEN, Per Christian. “Metodologias de Aprendizagem Ativa”. Viçosa, MG, CPT, 2017.
- VALENTE, J. A.. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta da sala de aula invertida. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 4/2014, p. 79- 97. Editora UFPR.
Vejo a importância enorme de uma oferta assim. Sendo europeu, confirmo grande demanda de matérias variadas, não só nestes tempos pandêmicos extraordinários, mas também na fase pós-crise, pois muita tecnologia veio para ficar. Uma vez o corpo docente, bem como alunos de todo nível e de toda área temática acostumarem à fácil disponibilidade de conteúdo de qualidade, ainda em concordância às regras do MEC, esta oferta logo se tornaá uma necessidade básica. Parabéns, Videosfera, pela linha de frente que tomou!
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Parabéns pelo artigo !! Já uso metodologias ativas nas minhas aulas e estou feliz em saber que existe um site para pesquisas e com fidedignidade !!
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Esta semana iniciamos nas escolas do Estado de São Paulo o acolhimento aos professores e neste processo, intensificamos através de Palestras de sensibilização a importância das práticas pedagógicas alinhadas ao Projeto Político Pedagógico em acordo com a BNCC.
O PPP das escolas agora devem estimular o engajamento da equipe docente, discente e das famílias para a construção de um projeto colaborativo e democrático.
Em nossa Palestra, com o Tema: O Protagonismo dos Professores em 2021 indicamos a plataforma PaideiaPlay para os professores poderem de forma híbrida criar e recriar – nesta nova abordagem com a pandemia – os conteúdos para as aulas, reuniões com os pais e responsáveis!
Conhecimentos, habilidades e muita atitude serão necessários para em 2021 as aulas acontecerem de um jeito totalmente novo!
Muitos paradigmas deverão ser quebrados!
Muita inovação será o diferencial para sairmos do medo, da ansiedade e partirmos pra as realizações tão importantes para que a EDUCAÇÃO no Brasil
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