COMO E QUANDO INSERIR UM VÍDEO EM UMA AULA PARA ENSINAR MAIS E MELHOR

A maioria das pessoas que conheço, quando é convidada a assistir um filme premiado, seguido de um debate com especialistas, logo pensa que vai ser uma chatice: no debate estarão alguns “sabidões” usando termos técnicos desconhecidos, enquanto na plateia a maioria das pessoas vai se encher de aborrecimento.

O mais interessante, é que na maioria das vezes não é isso o que ocorre.

Já presenciei várias vezes: a pessoa que resistia, depois de concordar em assistir tanto ao filme quanto ao debate, muda de ideia depois. E, mais adiante, acaba discorrendo longamente sobre o filme, elogiando a posição de um ou outro debatedor e fazendo suas próprias considerações, baseadas em conceitos que apreendeu no debate.

Este efeito é o mesmo que ocorre quando alguém assiste a um vídeo técnico sobre manutenção de automóveis ou cuidados com o jardim:

  • Se a abordagem dos especialistas é bem feita, o espectador acaba entendendo novos conceitos sem muito esforço, especialmente quando está buscando uma determinada informação.
  • E se há oportunidade de discutir o tema com alguém que também viu o vídeo, o resultado é ainda melhor.
  • Sem perceber, o espectador acaba, inclusive, desenvolvendo a capacidade de elaborar conceitos abstratos sobre o tema, que até então pareciam sem sentido, aprendendo mais do que esperava.

Para os alunos, na sala de aula, a situação é semelhante. E se ao invés de um vídeo em que predominam longas falas dos técnicos sobre mecânica ou jardinagem, normalmente gravadas com um celular, eles podem assistir documentários e vídeos educativos de alta qualidade técnica, estética e narrativa.

O VÍDEO CERTO NA HORA CERTA, PARA POTENCIALIZAR A APRENDIZAGEM

Ao verem um vídeo sobre reações químicas ou conceitos de geografia, se a abordagem contextualiza direta ou indiretamente algo que está sendo estudado, a compreensão do conteúdo aumenta muito e a sensação é de satisfação.

Porém, mesmo um vídeo de alta qualidade, apresentado na sala de aula arbitrariamente, sem conexão com os conteúdos curriculares, causa desinteresse e não leva a informação necessária. Isso também ocorre quando a obra aborda um tema que está sendo estudado, mas sem sincronia com a abordagem do professor. Um vídeo fora do contexto gera um processo que se retroalimenta: quanto menos os alunos sabem sobre o tema, menos entendem o que estão assistindo e mais se dispersam.

Para ajudar a aprender, os vídeos educacionais precisam ser inseridos no contexto da abordagem do professor. De acordo com a obra e o conteúdo estudado, o professor precisa decidir o momento adequado para que o vídeo seja assistido, quando os alunos já detêm os conceitos mais básicos para um aproveitamento mais efetivo da obra audiovisual.

Fundamentos para usar vídeos na sala de aula

Além disso, será necessário analisar a obra audiovisual e definir se ela é mais adequada para a introdução, o aprofundamento ou a conclusão do conteúdo abordado pelo professor.

  • Documentários de abordagem mais ampla, de maior duração, têm maior potencial de uso na introdução e na conclusão.
  • Vídeos de abordagem mais específica, mais curtos, podem ajudar mais no desenvolvimento da abordagem do professor.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

E motivação para assistir

O professor também deve falar sobre a obra audiovisual previamente, comentar o conteúdo e a forma da narrativa, as qualidades do filme, indicar os objetivos de aprendizagem e motivar a turma a assistir. Os alunos precisam ter uma mínima ideia do conteúdo que vão encontrar e, de alguma forma, serem motivados a se interessar e a querer assistir o vídeo.

A experiência deles deve se aproximar da nossa quando assistimos ao vídeo sobre como cuidar de um jardim ou fazer a manutenção do carro: não conhecíamos a técnica, mas estávamos buscando uma informação que supúnhamos estar lá e que seria útil.

Enquanto o vídeo é assistido, será preciso ajudar a turma a manter o foco nas imagens e no áudio. Devem ser evitados fatores que desviem a atenção, principalmente no início da exibição, quando o engajamento ainda é baixo.

A sala escura do cinema e o áudio de qualidade têm este poder de manter os olhos do espectador na tela e os ouvidos atentos. Na sala de aula o projetor (ou a TV) funciona em plena luz do dia, então o professor deve incentivar a turma a assistir, evitando que fatores de distração atrapalhem os objetivos de aprendizagem propostos.

Esta preocupação, normalmente, acontece mais no início da exibição. Depois, os alunos acabam sendo envolvidos pela narrativa e mantém a atenção na maior parte do tempo. Esta é uma das vantagens de um bom documentário ou vídeo de jornalismos científico ou cultural: a capacidade de gerar engajamento.

Discutir, refletir e repensar

PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Um segundo momento de grande importância ocorre depois que o vídeo foi assistido.

  • Será indispensável uma discussão sobre seu conteúdo e uma nova contextualização com o que está sendo estudado.
  • O ideal é que o debate ocorra imediatamente após o término da exibição.
  • A discussão vai funcionar como o debate com especialistas depois do filme premiado, no exemplo que usei no início deste artigo: muitos detalhes que tinham passado despercebidos, passam a ter um sentido que propiciam um novo entendimento, mais completo, sobre o tema.
  • Motivados pelo que viram, pelo conteúdo contextualizado e analisado sob diferentes óticas na obra audiovisual, os alunos se sentem mais à vontade para expor suas ideias, ouvir as dos demais e chegar a novas conclusões.
  • A interação entre alunos com diferentes níveis de aprendizado do conteúdo e a mediação do professor terão implicações sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal.
  • O conteúdo estudado deixa de ser abstrato e passa ser concreto e útil, tornando a aprendizagem mais significativa do que se a informação chegasse ao aluno apenas de forma verbal.

PARA CONCLUIR

Documentários, vídeos educativos e jornalísticos sobre ciência e cultura, apresentam um grande potencial de uso na educação. Porém, como qualquer recurso didático devem ser usados de maneira adequada. Simplesmente serem exibidos fora do contexto do trabalho do professor ou apenas para preencher um horário vago, perdem a capacidade de promover aprendizagem. Podem até servir como entretenimento e entregar informações de valor aos alunos, mas isto é muito pouco diante do enorme potencial que os audiovisuais oferecem para a aprendizagem.

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