VICIADO EM CELULAR? Ferramenta não identifica vício entre estudantes, mas sim uso excessivo sobretudo das redes sociais

Uma ferramenta desenvolvida na Universidade de Binghamton (Estado de Nova Iorque – EUA) para medir vício em celular, mostrou que, entre estudantes universitários, o uso excessivo não é generalizado e se concentra em alguns domínios, especialmente nas mídias sociais.

A ferramenta é apresentada em um artigo publicado no site da universidade em 05 de dezembro de 2023 (clique aqui para acessar a publicação).

Senso comum x estudos científicos

Se você é educador e ficou desapontado com o resultado, pode ter certeza de que não está sozinho. Nos últimos anos, têm aumentado as preocupações com o uso excessivo dos celulares para acessar conteúdos na internet. O principal argumento é o de que os celulares viciam crianças, adolescentes e adultos.

Particularmente no caso de crianças e adolescente, textos e vídeos publicados na internet têm mobilizado uma caça às bruxas contra dispositivos móveis e seus efeitos negativos.

  • Esta discussão, entretanto, se desenvolve com base no senso comum sobre o tema e leva a uma crescente proposição de proibição do uso. Destaque: a proibição vale apenas para crianças e adolescentes, não para os adultos.
  • Muito além do senso comum e das posições intuitivas sobre o tema, o pesquisador Daniel Hipp, do Laboratório de Estudos Infantis da Universidade de Binghamton, percebeu que as ferramentas atuais para medir a relação entre psicologia e tecnologia estão desatualizadas, utilizando conceitos antiquados tecnologicamente.
  • Por isso, Hipp e colaboradores, juntamente com o Centro de Educação e Tratamento de Mídia Digital em Boulder, Colorado, desenvolveram uma Escala de Uso Excessivo de Mídia Digital. Com ela, especialistas e pesquisadores podem ter liberdade de fazer investigações mais amplas (exemplo: mídias sociais em geral) assim como mais específicas (exemplo: Instagram).

Daniel Hipp testou a ferramenta identificando quais conteúdos estudantes universitários acessam mais em seus celulares.

Para testar a “Escala de Uso Excessivo de Mídia Digital”, foi feita uma pesquisa anônima com mais de 1.000 estudantes universitários, buscando investigar comportamentos e atitudes clinicamente relevantes relacionados a cinco domínios de mídia digital: uso geral de smartphones, consumo de vídeos na Internet, uso de mídias sociais, jogos e uso de pornografia.

A caça às bruxas é pouco produtiva

Campus da Binghamton University.

Os resultados da pesquisa de Daniel Hipp foram interessantes e, mesmo, surpreendentes:

  • A maioria dos estudantes demonstrou poucos indicadores de dependência das mídias digitais;
  • Os padrões de uso encontrados são altamente direcionados a domínios específicos para usuários específicos. Ou seja, generalização nas considerações sobre o tema são pouco precisas.

Para o pesquisador Peter Gerhardstein, “o resultado revela que o uso excessivo não é algo generalizado; os entrevistados normalmente relataram uso excessivo em apenas um ou alguns domínios, como as mídias sociais”. Segundo suas conclusões “os dados mostram uma imagem de uma população que utiliza substancialmente as mídias digitais, sendo que as mídias sociais, em particular, estão em um nível que aumenta a preocupação com questões de uso excessivo.” Ou seja, o uso do celular é elevado, mas o uso excessivo se concentra nas mídias sociais.

Outra conclusão do estudo é de que a Escala de Uso Excessivo de Mídia Digital mostra-se um instrumento clínico confiável, válido e extensível, que poderá ser usado para avaliações clinicamente relevantes dentro e entre domínios de mídia digital.

  • Pesquisas como a escala desenvolvida por Hipp e validada no laboratório do professor Gerhardstein, na Universidade de Binghamton têm objetivo de melhorar a compreensão coletiva sobre como a psicologia humana deve se relacionar com um cenário de mudança muito rápida da mídia digital.
  • Mas, mostram também que as soluções extremas surgidas no próprio meio das redes sociais não deveriam servir de guia para decisões de gestores escolares, professores e pais.
  • Um exemplo de mídia digital altamente engajadora, mas que é construtiva para seus usuários, é o Duolingo, plataforma gratuita para o ensino de idiomas. Seu uso rotineiro pode entregar benefícios reais ao usuário: mais tempo dedicado, maior aprendizagem.

Problema da tecnologia ou do conteúdo?

O que se percebe é que a educação digital é o caminho mais adequado para que crianças e adolescentes (e, logicamente os adultos) possam tornar-se usuários produtivos das tecnologias digitais e não apenas consumidores de conteúdos de entretenimento.

Proibir o uso da tecnologia é mais fácil, mas muito menos produtivo. Trabalhar para que crianças e adolescentes tenham um letramento digital, facilitando o acesso a bons conteúdos no contexto da aprendizagem, não é tão difícil e os resultados desta iniciativa podem ser revolucionários.


Abaixo, alguns posts sobre o uso de Inteligência Artificial pelos profissionais da educação:

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA EDUCADORES

PLATAFORMAS DE IA DE USO GRATUITO PARA EDUCADORES

O CHATGPT POR ELE MESMO: uma entrevista sobre seu uso na educação por professores, coordenadores pedagógicos e diretores.

O GEMINI POR ELE MESMO: uma entrevista para professores, coordenadores pedagógicos e diretores escolares conhecerem mais a Inteligência Artificial

Leia artigos sobre o uso de audiovisuais na educação na página: Vídeos e Aprendizagem.

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